Cientistas brasileiros identificaram a área cerebral responsável pela extinção das memórias relativas a eventos traumáticos: o córtex pré-frontal ventromedial.
O cérebro de um camundongo com seus neurônios em cores. A seta mostra o sulco que divide o cérebro do animal ao meio, no fundo do qual está o córtex pré-frontal ventromedial.
O cérebro de um camundongo com seus neurônios em cores. A seta mostra o sulco que divide o cérebro do animal ao meio, no fundo do qual está o córtex pré-frontal ventromedial.
Nestes tempos de exposição viral pela internet de episódios de extrema violência, como os tiroteios urbanos, ataques a templos, massacres em escolas e atos terroristas provocados por traficantes, extremistas ou psicopatas, é importante conhecer os seus impactos sobre a estrutura psicológica das vítimas, bem como os determinantes cerebrais dos sintomas resultantes.
A tendência, na maioria das pessoas, é a lembrança ir-se esvaindo com o tempo, mais em alguns do que em outros. A isso se chama extinção da memória do medo, um mecanismo protetivo que nos permite seguir em frente. A vida continua, dizemos. Mas, para muitos que vivenciam esse tipo de experiência impactante, o que fica é o chamado estresse pós-traumático, uma recorrente e sofrida memória do medo, evocada toda vez que algum sinal ligado ao evento causador aparece à vista ou ao pensamento da vítima. E as consequências são severas — físicas e mentais — demandando tratamentos de incertos resultados.
Como se pode compreender o que acontece no cérebro dessas pessoas — as que esquecem e as que não esquecem — com a finalidade de sugerir aprimoramentos nas terapias disponíveis? A isso se propôs o grupo de pesquisa de Ivan Izquierdo na PUC do Rio Grande do Sul, o neurocientista mais destacado do país.
O grupo utilizou um modelo animal para poder acessar o interior do cérebro e investigar com detalhes os mecanismos envolvidos, algo impossível atualmente para o cérebro humano. Os experimentos foram feitos em camundongos. Colocados em gaiolas especiais com piso metálico, os animais recebiam de repente um pequeno choque elétrico, de baixa intensidade para não feri-los, mas suficientemente assustador para provocar neles uma reação de congelamento. Ficavam estáticos durante alguns minutos, apenas respirando sem se mover, como quem pensa: se eu ficar quieto, o perigo vai embora! Essa reação, aliás, existe também em algumas pessoas frente a cenas violentas: paralisam e não conseguem sair do lugar, nem mesmo para se proteger.
No dia seguinte os animais eram colocados na mesma gaiola sem qualquer choque, para verificar se a lembrança do ambiente ameaçador provocava o congelamento. Provocava muito menos: ocorria a extinção do comportamento de medo condicionado. E sabe como o congelamento era ainda menor? Quando um outro camundongo “amigo” estava na gaiola. O fenômeno também tem um nome técnico: apoio social. Quer dizer: o apoio social é fundamental para mitigar os efeitos da memória do medo.
Como se poderia conhecer os mecanismos cerebrais desse fenômeno? Os pesquisadores fizeram um experimento engenhoso. Por meio de microcânulas cuidadosamente posicionadas no cérebro dos camundongos, infundiam pequenas quantidades de substâncias inibidoras da expressão dos genes, que normalmente resulta em síntese de novas proteínas, estas últimas encarregadas da consolidação das memórias. Genes e proteínas do medo — do susto, no caso dos camundongos.
O experimento era então repetido: gaiola, pequeno choque nas patas, congelamento… Só que nos animais tratados com as substâncias inibidoras instiladas em uma certa área do cérebro, o congelamento não desaparecia, e ainda reaparecia no dia seguinte. Conclusão: os pesquisadores tinham identificado a área do córtex cerebral do camundongo responsável pela extinção das memórias de medo. A área “culpada” tem um nome complicado: córtex pré-frontal ventromedial. Existe nos camundongos, e existe nos seres humanos também.
Certo. Você agora quer saber como isso pode reverter em benefício para as pessoas com estresse pós-traumático. A resposta é simples: não sei. A ciência deu um passo. Quem sabe o sofrimento recorrente dessas pessoas não se deve a um bloqueio do córtex pré-frontal ventromedial? E quem sabe não está próximo o momento em que aprenderemos como remover esse bloqueio para propiciar a extinção das memórias do medo? A neurociência deve seguir avançando essa trilha, e teremos novos resultados em breve.
Enquanto isso os melhores resultados para tratar medos e fobias, que é o medo exagerado de alguma coisa, estão sendo obtidos com hipnoterapia.
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