Por que algumas pessoas não conseguem se lembrar dos sonhos

A resposta para por que sonhamos – e se conseguimos nos lembrar dos sonhos – está enraizada na biologia dos nossos corpos adormecidos e do nosso subconsciente.

Estou do lado de fora da minha escola na infância, perto do portão principal e do estacionamento dos professores. É um dia ensolarado e estou cercado por quase uma centena de colegas. Tenho a impressão de que alguns professores estão por perto, mas minha atenção está voltada para dois adultos, que não reconheço. Consigo ver um em detalhes – da brilhantina no cabelo às lentes douradas dos óculos escuros. Ele segura um dispositivo que emite um grito estridente. Caio de joelhos botando as mãos nos ouvidos. Meus colegas de escola fazem o mesmo. O homem ri loucamente.

Tive esse sonho há quase 40 anos, mas consigo lembrar os detalhes como se fosse ontem. Mas se me pedirem para contar o que sonhei no início desta semana, me dá um branco. Se tenho sonhado – e a biologia sugere que provavelmente sim -, nada permaneceu tempo suficiente no meu cérebro acordado.

Para muitos de nós, sonhos são uma presença quase intangível. Se tivermos sorte, conseguimos nos lembrar brevemente ao acordar; mesmo quem é capaz de recordar com riqueza de detalhes sonhos passados, pode despertar certos dias com quase nenhuma memória do que sonhou. No entanto, há algumas razões pelas quais isso acontece. A resposta para o porquê de sonharmos – e se conseguimos nos lembrar dos sonhos – está enraizada na biologia dos nossos corpos adormecidos e do nosso subconsciente.

O sono é mais complicado do que se imagina. Quando está em repouso, nosso cérebro passa por uma montanha-russa de estados mentais, com algumas partes repletas de atividade mental.

O sonho está mais associado à fase do sono conhecida como Movimento Rápido dos Olhos (REM, na sigla em inglês). Às vezes, o REM também é chamado de sono dessincronizado, uma vez que pode imitar alguns sinais de quando estamos acordados. Durante essa fase, os olhos se movem rapidamente, há alterações na respiração e na circulação, e o corpo entra em um estado de paralisia, conhecido como atonia. Acontece em ondas de 90 minutos durante o sono, e é nesse estágio que nosso cérebro tende a sonhar. Há um fluxo extra de sangue para partes cruciais do nosso cérebro durante o REM: o córtex, que preenche nossos sonhos com seu conteúdo, e o sistema límbico, que processa nosso estado emocional.

Enquanto estamos neste estado de sono ideal para sonhar, há uma intensa atividade nessa região. O lóbulo frontal, no entanto, responsável pelo nosso senso crítico, fica em repouso. Isso significa que costumamos aceitar cegamente o que está acontecendo nas narrativas muitas vezes sem sentido dos sonhos até acordar.

Mais confuso, menos memorável

O problema é que, quanto mais confusos são os sonhos, mais difícil é para nós retê-los. Sonhos que têm uma estrutura mais clara são muito mais fáceis de lembrar, afirmou Deirdre Barrett, professora de Psicologia da Universidade Harvard, em artigo recente publicado no site Gizmodo.

Mas existe um componente químico crucial para garantir que as imagens dos sonhos sejam retidas: a noradrenalina. Este é um hormônio que estimula o corpo e a mente a agirem – e seus níveis são naturalmente mais baixos durante o sono profundo.

Francesca Siclari, médica pesquisadora do sono no Hospital Universitário de Lausanne, na Suíça, diz que há uma fronteira clara entre nossos estados de sono e de vigília – e isso não é por acaso:

“Provavelmente é uma coisa boa que a vida nos sonhos seja completamente diferente da vida acordado”, diz ela. “Acho que se lembrássemos de todos os detalhes, começaríamos a confundir as coisas com o que está acontecendo de fato na vida real.”

Segundo ela, pessoas que sofrem de distúrbios do sono, como narcolepsia, podem ter dificuldade de diferenciar a vida de quando estão acordadas e dormindo, e isso pode deixá-las confusas e constrangidas.

“Há também pessoas que se lembram muito bem dos sonhos e começam a exportar essas lembranças para o seu dia a dia.”

Não é por acaso que os sonhos de que mais lembramos são provenientes de certos períodos do nosso ciclo de sono, influenciados pelas substâncias químicas que circulam em nossos corpos adormecidos.

“Normalmente, os sonhos mais vívidos acontecem no sono REM, que é quando os níveis de noradrenalina estão baixos no cérebro”, diz ela.

Podemos estar sonhando pouco antes de despertar – mas nossas rotinas matinais acabam nos impedindo de lembrar.

Muitas vezes acordamos sobressaltados com o despertador, o que provoca um pico em nossos níveis de noradrenalina – e, consequentemente, dificulta a retenção dos sonhos.

“Quando alguém me pergunta por que não consegue se lembrar dos sonhos, eu digo que é porque adormece rápido demais, dorme profundamente e acorda com o despertador”, diz Robert Stickgold, pesquisador do sono em Harvard.

“E a reação das pessoas geralmente é: ‘Como você sabe disso?’.”

Stickgold explica que muitas pessoas lembram de sonhos do início do sono, quando a mente começa a vagar e as imagens oníricas aparecem, ou seja, quando estão meio adormecidas e acordadas – um processo chamado “sonho hipnagógico”.

Ele conta que realizou um estudo há alguns anos, em que estudantes em um laboratório foram acordados logo após começarem a entrar nesse estado.

“Todos se lembravam de ter sonhado.”

“Este estágio acontece nos primeiros cinco ou dez minutos depois de adormecer. Se você pegar no sono rápido – como sempre desejamos -, não vai se lembrar de nada dessa parte do seu ciclo de sono.”

Como guardar sonhos?

E se você quiser fazer algo para lembrar dos sonhos? Obviamente, o sono de cada pessoa é diferente, mas há algumas dicas gerais que podem ajudar.

“Os sonhos são incrivelmente frágeis quando acordamos, e realmente não temos uma resposta para isso”, afirma Stickgold.

“Se você é o tipo de pessoa que pula da cama e começa o dia imediatamente, não vai se lembrar dos seus sonhos. Quando você está dormindo em um sábado ou domingo de manhã, é um excelente momento para lembrar dos sonhos.”

“O que eu digo aos meus alunos nas aulas é: quando você acordar, tente ficar quieto – não abra sequer os olhos. Tente ‘flutuar’ e, ao mesmo tempo, lembrar do que sonhou. O que você faz é rever os sonhos quando entra no estado de vigília e se lembrar deles como qualquer outra memória.”

Há outras maneiras ainda mais certeiras de lembrar dos sonhos, acrescenta Stickgold.

“Eu digo às pessoas para beberem três copos grandes de água antes de deitar. Não três copos de cerveja, porque o álcool prejudica a fase REM, mas de água. Você acordará três ou quatro vezes durante a noite, e tenderá a acordar ao fim de um ciclo natural de sono REM.”

Há também outro conselho oferecido por alguns pesquisadores do sono – se você simplesmente repetir para si mesmo quando vai dormir que quer lembrar dos seus sonhos, isso significa que você vai acordar se lembrando deles.

Stickgold dá risada: “Funciona mesmo. Se você fizer isso, realmente vai se lembrar de mais sonhos, é como dizer ‘não há lugar como a nossa casa’ (uma referência ao livro O Mágico de Oz)! Realmente funciona.”

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Fonte: https://vivabem.uol.com.br/noticias/bbc/2019/06/30/por-que-algumas-pessoas-nao-conseguem-se-lembrar-dos-sonhos.htm?fbclid=IwAR2SdsczqUhs4Bh1f_D0jQSUnZ1oa2GZcoBnmb8b_NbIN5szaCidMHeNXEg

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Sobre o Autor

Prof. Sergio Enrique Faria

Dr. Sergio Enrique Faria é diretor do Estúdio da Mente. Neurocientista, Membro da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento e do Grupo de Estudos de Hipnose da UNIFESP. Doutor em Ciências da Educação, Mestre em Comunicação, Psicanalista, Parapsicólogo, Hipnoterapeuta e Neuroeducador com especializações em Neurociência Clínica e Educacional, Neuropsicologia, Neuropsicopedagogia, Psicanálise Clínica, Didática e Metodologia do Estudo. Trainer e Master Practitioner com formações internacionais em Hipnose e em PNL – Programação Neurolinguística. Líder de Aprendizagem certificado pela Harvard University (EUA). Professor de Hipnose e PNL. Palestrante e Professor em cursos de MBA e Pós-graduação em grandes universidades. Autor e coautor de livros e mais de 150 artigos em jornais e revistas.

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