Sinestesia: A brasileira que enxerga notas musicais e sente cheiro em vozes

É possível ver sons e cheirar vozes

A jovem estudante Ana Eulália S. tem um ar e doce, 1,55 metro de altura e voz delicada, que a conferem um jeitinho de menina que Maurício Businari encanta quem a conhece. Sua timidez chega a ser uma contradição frente aos mais de 765 mil seguidores e dezenas de milhões de visualizações em seus vídeos no TikTok. Um sucesso meteórico que teve início quando decidiu postar na plataforma um vídeo contando sobre como é conviver com uma condição muito especial, que a possibilita combinar de forma única os seus sentidos: a sinestesia.

No vídeo, que já conta com 18 milhões de visualizações, ela narra a experiência de conviver com a condição, explicando que é como se seus sentidos fossem “embaralhados”. Ela conta aos seguidores que “enxerga” os sons. E não só isso. Para ela, eles também têm cor, cheiro, textura e até sabor.

“Vozes femininas têm o gosto doce. Tenho uma amiga cuja voz tem gosto de suspiro. Vozes masculinas são salgadas ou amargas. A voz de um amigo meu tem gosto de canja de galinha”, conta a jovem. “Uma vez tive que parar de ler um livro porque a cor das páginas era doce demais”.

Eulália vive em São Gabriel da Palha (ES), uma pequena cidade com 36 mil habitantes, colonizada por imigrantes europeus que fugiram dos horrores da Primeira Guerra Mundial. Em entrevista ao UOL, ela conta que teve que se esforçar muito para se enquadrar nos costumes dos vizinhos. Principalmente entre as crianças e, posteriormente, entre os adolescentes da cidade.

“São Gabriel é uma cidade muito pequena. Sempre tive muita dificuldade em me adequar. Eu não me interessava pelas brincadeiras que as outras crianças gostavam e, já adolescente, não curtia baladas, barzinhos, essas coisas. Eu sempre preferi ficar em casa, na companhia dos meus livros, ouvindo boa música, desenhando e assistindo a filmes. Eu era considerada ‘a esquisita’ da cidade”.

Sobre a sinestesia, conta a jovem, descobriu o que era quando tinha 14 anos. Ela estava em uma festa, conversando com um amigo, quando uma música específica começou a tocar. Ela então comentou: “Nossa, sabe essa parte da música? Você não sente também que ela é rosa, macia e quente?”. Para sua surpresa, o menino disse que não. Foi quando descobriu, pela primeira vez, que os outros não viam e sentiam o mundo como ela.

Voz com cheiro de leite

A estudante é capaz de visualizar os sons de uma música e interpretá-los em símbolos, cores e formas. Na maioria das vezes, a sinestesia traz para Eulália leituras positivas e interessantes sobre o mundo que a cerca. Mas nem sempre. Ela se lembra de uma vez em que passou mal com a voz de uma colega de classe, enquanto ainda frequentava o ensino fundamental.

“Se tem uma coisa que não suporto é cheiro de leite. Aquele cheiro meio azedo e adocicado, sabe? Pois a voz dela, meio chorosa, meio como um lamento, tinha esse cheiro. Ela começou a falar comigo sem parar e eu comecei a ficar enjoada e tive que correr para o banheiro, lavar o rosto e dar um tempo até passar a náusea”.

As experiências musicais, para ela, são completamente diferentes do que se espera. Além de perceber sabores, ela diz enxergar formas, linhas, traços, cores, em cada trecho de uma música. Algumas vezes, ela até consegue “desenhar” essas imagens num papel, em sequência, como se fosse uma partitura.

Eulália diz que sempre quis ser artista, mas sua família apresentava ressalvas e, então, ela optou pela faculdade de biologia, porque acredita que “o conhecimento técnico da natureza pode ser um elemento de transformação da sociedade”. Ela tem esperança de depois encontrar uma maneira de influenciar, facilitar a reconexão do homem com a natureza, que ela diz respeitar e amar muito.

Baleias, feijoada e “cor de Anitta”

Eulália conta que uma das experiências mais incríveis que vivenciou foi ao ouvir pela primeira vez a música Fredericia, de uma banda instrumental canadense chamada Do Make Say Think.

E o que dizer do funk? O gênero, em si, ela diz não apreciar muito, mas a reverberação dos graves, comumente marcantes ao longo desse tipo de música, costuma ser azul escuro aos seus olhos (e ouvidos). Já as músicas de Anitta são, na sua leitura, marcadas por tonalidades de cor magenta e vinho.

“Também é gelada e macia, como um tecido bem fino”, conta. As experiências sinestésicas com alimentos de sabor marcante, como a feijoada, por exemplo, não acionam nela o gatilho da combinação de sentidos. Porém, o contrário se aplica perfeitamente.

Nem defeito e nem doença

Wanderley Cerqueira de Lima, neurocirurgião e neurologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, avisa que a sinestesia, apesar de especial, é apenas uma característica diferenciada que alguns grupos possuem, assim como a visão periférica e o ouvido absoluto. De maneira nenhuma deve ser considerada doença ou defeito.

“Pelo contrário, quem dera eu também fosse um sinesteta (nome dado a quem desenvolve a característica da sinestesia). Deve ser uma visão de mundo muito rica, interessante”, afirma o médico. “Uma característica neurológica, no qual um sentido é ativado com estímulos comuns e que leva a uma resposta extraordinária do cérebro”.

Segundo o neurologista, existem mais de 50 tipos diferentes de sinestesia, sendo o mais comum a sinestesia audiovisual, em que a pessoa “enxerga” sons ou ouve sons saídos de imagens e cores.

Acredita-se que uma a cada 25 mil pessoas seja sinesteta. Apesar de se apresentar mais comumente em pessoas do espectro autista, ela é frequente em artistas, músicos e poetas. Entre os sinestetas famosos, estão o compositor francês Claude Debussy, o artista plástico russo Wassily Kandinsky e a cantora e compositora islandesa Björk.

Na sinestesia, as sensações ocorrem ao mesmo tempo, sem que uma substitua outra. Há sempre uma adição, nunca uma troca. Em muitos casos, segundo Cerqueira de Lima, a sinestesia pode preocupar a pessoa com essa qualidade, que passa a achar que tem algo de “errado” com ela. Pessoas próximas também podem pensar o mesmo dela, levando-a a um isolamento maior, tornando-a introspectiva e retraída.

“A principal dica que dou aos sinestetas e seus entes queridos é que busquem conhecimento a respeito do que é essa característica ‘diferente’. Essa leitura do mundo ‘fora da norma’. A internet pode ser um excelente campo de pesquisa inicial para desmistificar a ‘esquisitice’ dessa condição. Nossos sentidos estão interconectados por uma rede com trilhões de neurônios e são eles os responsáveis pelas sinapses. O sinesteta apenas tem à sua disposição uma hiperconexão dessas redes”, ensina o especialista.

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Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/05/06/ana-eulalia-a-jovem-que-enxerga-notas-musicais-e-sente-cheiros-nas-vozes.htm

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Sobre o Autor

Prof. Sergio Enrique Faria

Dr. Sergio Enrique Faria é diretor do Estúdio da Mente. Neurocientista, Membro da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento e do Grupo de Estudos de Hipnose da UNIFESP. Doutor em Ciências da Educação, Mestre em Comunicação, Psicanalista, Parapsicólogo, Hipnoterapeuta e Neuroeducador com especializações em Neurociência Clínica e Educacional, Neuropsicologia, Neuropsicopedagogia, Psicanálise Clínica, Didática e Metodologia do Estudo. Trainer e Master Practitioner com formações internacionais em Hipnose e em PNL – Programação Neurolinguística. Líder de Aprendizagem certificado pela Harvard University (EUA). Professor de Hipnose e PNL. Palestrante e Professor em cursos de MBA e Pós-graduação em grandes universidades. Autor e coautor de livros e mais de 150 artigos em jornais e revistas.

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