Pais biológicos, ancestrais: saber origens é bom, mas cuidado com decepções

Árvore genealógica

Pessoas buscam por informações sobre as próprias origens por motivos variados. Quando se é um filho adotivo, pode ser para descobrir quem foram os pais biológicos; por recomendação médica, com o intuito de identificar possíveis mutações genéticas hereditárias e, assim, evitar doenças. Mas também há os interessados no direito de requerer alguma cidadania, ou ainda em saber como eram seus ancestrais, onde viviam, o que faziam, se eram parecidos em algo.

Segundo os especialistas, independentemente da intenção por trás, tudo isso, em menor ou maior grau, carrega uma “utilidade” emocional. Ao fazer um teste de DNA, acessar documentos antigos, conversar com avós, conectamo-nos com um passado que pode nos levar a reflexões e, com elas, mudanças de percepção, comportamentos, crenças, cuidados pessoais. Fora que ativa a curiosidade, o senso de pertencimento e o pensamento crítico.

Investigar a história, sobretudo a que nos envolve diretamente, ainda nos permite assimilar o que podemos ser e fazer, embora não determine quem somos. Serve como ferramenta de conscientização, inspiração e construção para a própria vida, além de uma sociedade mais justa. E se envolver contato com outra cultura nos desafia e estimula a aprender com as diferenças, além de exercitar a empatia e o respeito e fortalecer os laços.

Aprendem-se lições valiosas

Trazer à luz o que nossos familiares enfrentaram, ao longo de períodos marcados por diversos sofrimentos, injustiças, carências (de medicamentos, tecnologias, direitos etc.), ajuda-nos a enxergar o presente, o que inclui nossos desafios diários, de maneira positiva, ou um pouco mais otimista. Não que hoje seja tudo lindo, longe disso, mas são muitas as conquistas, e a gratidão, quando espontânea, ajuda a liberar serotonina, o hormônio do bem-estar.

Olhar para trás também enfatiza a importância de se ter conquistado liberdade e não aceitar violências físicas e psicológicas, enraizadas e naturalizadas, que podem ter experimentado as gerações anteriores, principalmente dentro da própria família e repassadas adiante. Tomar ciência disso pode ser um caminho para estabelecer um ponto final e ajudar o abusador a reconhecer o que faz e fizeram com ele, seus pais, avós. Uma mudança difícil, mas possível. Saber que os antepassados erraram ou fracassaram em muitos aspectos também nos ensina a não carregar sobre nós possíveis cobranças e desejos alheios. “Esse tipo de conexão [com as origens] não envolve apenas acontecimentos bons, também ruins, mas sempre é possível extrair lições valiosas”, comenta Yuri Busin, psicólogo, mestre e

doutor em neurociência do comportamento e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental), em São Paulo (SP).

Mais sociáveis e completos

Ao montar uma árvore genealógica e localizar “primos” distantes, que nem imaginávamos existir, podemos contatá-los e, havendo interesse recíproco, construir uma relação “híbrida”, de família, mas com cara de amigos. O sangue pode ser o mesmo, mas, por não ter havido uma convivência, que, muitas vezes, com os parentes diretos é forçada, e essa se basear por pura vontade, pode ser que curse com um vínculo mais significativo e duradouro durante a vida.

“Pode fazer muito bem para quem é solitário [especialmente a idosos]. Existem processos terapêuticos em que é estabelecida uma linha do tempo, então vemos o passado do paciente, que, levado aos ‘primórdios’ de sua família, acaba se sentindo ‘mais completo’, inerente a uma história, e a partir daí tenta se entender para compor a própria jornada”, explica Liliana Seger, doutora em psicologia pelo IP-USP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo).

Essas amizades ‘novas’, embora relacionadas a tempos longínquos, ademais, são fundamentais para que possamos externalizar sentimentos (de alegria, emoção) reprimidos durante anos de busca, e demonstrarmos nosso afeto, amor, além de conhecimentos, o que é fundamental para a saúde mental. A interação nos faz sentir validados, compreendidos e acolhidos. Na mente da pessoa é como se seus ancestrais, por meio dos descendentes, tivessem, enfim, a encontrado.

Mas tome alguns cuidados

Revisitar o passado e descobrir as origens, porém, a depender da energia depositada nessa procura e da interpretação que é feita, pode gerar alguns problemas. O mais comum deles é se decepcionar por não ter encontrado o que queria, ter idealizado demais quem eram seus ancestrais e, depois, ter descoberto que não eram indivíduos “tão legais” quanto se supunha, ou mesmo por não ser correspondido na mesma intensidade e expectativa pelos parentes.

De acordo com Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves e com experiência pelo HC (Hospital da Cidade), em Salvador (BA), quem se dedica incessantemente a investigar esse assunto, ou tende a falar dele com muita frequência, também pode acabar mal compreendido, deixar de lado interesses mais importantes e até afastar ou esquecer os entes próximos. “O apego excessivo ao passado traz sérios prejuízos, sobretudo limitar as experiências no aqui e agora”.

Por último, mas não menos preocupante, o sujeito pode querer resgatar e adotar para o seu dia a dia hábitos, visões de mundo, comportamentos que podem não fazer mais nenhum sentido na atualidade, ou até colocá-lo em apuros, como aos demais. Nesses casos, cabe observação e investigação médica, para saber se cursou com —ou revelou — algum problema psíquico, como obsessão, ou então mau-caratismo, a exemplo de se defender barbáries.

A busca da mãe biológica por meio de regressão de memória

A regressão de memória é um assunto ainda coberto de dúvidas e tabus, afirma o prof. Sergio Enrique Faria, psicanalista e hipnoterapeuta especialista em Neurociência. “É comum eu receber ligações perguntando se eu faço regressão para a pessoa descobrir o que foi na vida passada. Eu sou contrário a fazer regressões apenas por curiosidades”, afirma o professor. Além dos riscos de existirem falsas memórias, Sergio explica que no processo de regressão a vidas passadas, a pessoa pode se ver em diversas situações que podem ou não ser reais, por exemplo, presa e sendo abusada por alguém que ela reconhece hoje como um membro da família. Certamente isso poderia trazer impactos variados na mente e nas relações familiares dela.

Entretanto existem situações nas quais a regressão pode ser uma ferramenta muito interessante, como na busca da raiz de uma situação traumática ou de alguma memória da mãe biológica, por exemplo.

“Certa vez recebi uma cliente que já adulta descobriu que foi adotada e ninguém da família queria falar a respeito. Essa moça estava fazendo uma cruzada em busca de informações que a levasse a conhecer a sua história. Durante o processo de regressão ele conseguiu se lembrar e vivenciar o momento em que mamava no peito de sua mãe biológica e viu o dia e local em que sua mãe a entregou para a sua mãe atual”, nos conta Sergio.

“Fazer ou não regressão nestes casos é algo que deve ser muito bem pensado e conversado com o terapeuta, que também deve ter uma boa experiência e formação. Assim como cada história é única, cada regressão é uma experiência diferente e nem todas as pessoas conseguem alcançar os seus objetivos. Por isso, cada caso deve ser muito bem avaliado”, recomenda o professor.

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Fonte: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/12/06/pais-biologicos-ancestrais-saber-origens-e-bom-mas-cuidado-com-decepcoes.htm

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Sobre o Autor

Prof. Sergio Enrique Faria

Dr. Sergio Enrique Faria é diretor do Estúdio da Mente. Neurocientista, Membro da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento e do Grupo de Estudos de Hipnose da UNIFESP. Doutor em Ciências da Educação, Mestre em Comunicação, Psicanalista, Parapsicólogo, Hipnoterapeuta e Neuroeducador com especializações em Neurociência Clínica e Educacional, Neuropsicologia, Neuropsicopedagogia, Psicanálise Clínica, Didática e Metodologia do Estudo. Trainer e Master Practitioner com formações internacionais em Hipnose e em PNL – Programação Neurolinguística. Líder de Aprendizagem certificado pela Harvard University (EUA). Professor de Hipnose e PNL. Palestrante e Professor em cursos de MBA e Pós-graduação em grandes universidades. Autor e coautor de livros e mais de 150 artigos em jornais e revistas.

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