Um estudo realizado por uma equipe da Sorbonne e do departamento de neurologia do hospital Pitié Salpetrière identificou uma região do chamado córtex visual, usado do reconhecimento dos grafemas: letras e grupos de letras associadas a seus sons elementares. A pesquisa foi publicada em outubro, na revista científica PNAS, da Academia de Ciências Americana.
Quando o ser humano aprende a ler, a aquisição dessa ferramenta modifica algumas estruturas no cérebro – um órgão conhecido pela sua plasticidade e cujas capacidades começam, aos poucos, a serem desvendadas pela Ciência. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita por um grupo de especialistas do hospital francês Pitié-Salpetrière, em Paris, que analisou o mecanismo cerebral da leitura nos adultos.
Coordenado pelo neurologista francês Laurent Cohen, e executado no Instituto do Cérebro e da Medula Espinhal, o estudo identificou uma pequena região no córtex, localizada perto da nuca, no hemisfério esquerdo. Ela é responsável pela identificação de objetos e imagens, mas também possui áreas especializadas que, ativadas, nos faz memorizar fisionomias, lugares e os grafemas, que serão transformados em sons. O mais surpreendente é que essa parte do cérebro provavelmente se desenvolve durante o aprendizado da leitura na infância, o que mostra a capacidade do órgão de se moldar e modificar.
“Nosso cérebro não foi criado para aprender a ler. Quando aprendemos, devemos de uma certa maneira reciclar e utilizar sistemas cerebrais que não são especialmente feitos para isso”, explica o neurologista francês. Durante o aprendizado da leitura, diz, o cérebro passa por importantes mudanças anatômicas que modificam seu funcionamento. As modificações atingem o sistema visual, usado para identificar o alfabeto e o sistema da linguagem, relacionado aos sons. Eles comunicam entre si para associar a imagem das letras aos sons correspondentes.
“Em nosso estudo, trabalhamos sobretudo nas mudanças que ocorrem no córtex visual, embaixo dos lobos temporais, que servem para reconhecer fisionomias e objetos. No interior desse sistema de reconhecimento de objetos há, quando aprendemos a ler, uma modificação. Uma pequena parte desse córtex muda e se especializa no reconhecimento das letras, possibilitando a leitura”, explica o especialista francês.
O aprendizado da leitura, no cérebro, passa pelo reconhecimento dos objetos e, em seguida, das letras e sons. “Quando estamos lendo, é de extrema importância poder reconhecer os grafemas principalmente em voz alta e palavras desconhecidas”, ressalta Laurent Cohen. “Nessas circunstâncias é extremamente importante identificar com precisão cada grafema e transformá-lo em sons, para poder pronunciá-los da maneira correta.
Durante a experiência feita pela equipe do neurologista francês, os pesquisadores registraram a atividade cerebral dos participantes com um aparelho de ressonância magnética, enquanto eles liam palavras conhecidas ou não, inventadas, em voz alta ou em silêncio. Os cientistas também usaram cores diferentes para salientar ou “apagar” as sílabas. A ideia era facilitar ou dificultar o reconhecimento dos grafemas. Os pesquisadores então observaram que a região descoberta pelos cientistas reagia de maneira diferente.
“Quando modificamos a cor dos grafemas, as pessoas tinham dificuldade para ler. Isso influenciava o comportamento. Dentro de um aparelho de ressonância magnética, percebemos que essa manipulação dos grafemas modificava a atividade cerebral em uma região bem específica.” Outra hipótese do neurologista é que a modificação anatômica possa ser diferente em línguas que utilizam outros alfabetos e símbolos, como mandarim, japonês e russo, por exemplo. Sabe-se, também, que esse sistema não se desenvolve nas pessoas que não foram alfabetizadas.
Segundo o cientista francês, também há estudos atualmente que analisam as mudanças no cérebro à medida que as crianças aprendem a ler. Ele diz que a experiência feita pela sua equipe poderia ser repetida em alunos em idade de alfabetização, com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento dessa região do córtex. “De qualquer maneira, o estudo é um bom exemplo do que resulta da plasticidade cerebral. Durante o aprendizado da leitura, nosso cérebro mudou e adquiriu novas competências.”
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2 comentários em “Pesquisadores franceses afirmam que alfabetização muda anatomia cerebral”
Meu filho tem 9 anos de idade e foi diagnosticado com o TDAH aos seus 3 anos. É uma criança tranquila, obediente e responsável com suas coisas, mas até o momento não foi alfabetizado. Ele faz acompanhamento psicopedagógico, com neuro e atividades na sala de recursos multifuncionais. É uma luta muito grande e um desafio a cada dia. Como mãe, e preocupada com seu transtorno, busco por conhecimentos para ajudar seu fracasso escolar, pois sei o quanto é importante ajudá-lo.
Parabéns pelo seu empenho como mãe Aline. Em breve você verá seu filho se desenvolver bastante e seguir seus estudos!