Neymar pode não ter PhD em física quântica, mas burro ele não é. Por que, então, simula ter sofrido pênalti mesmo ciente de que os gramados da Copa dispõem de dezenas de câmaras dotadas de mecanismos de zoom e “slow motion” que fariam até Paulo Autran parecer um canastrão? Quem ele quer enganar?
Até a introdução do VAR, o jogador conseguia, de vez em quando, ludibriar o árbitro, que tinha de decidir na hora e sem videotape, mas agora cavar pênalti ficou difícil. Por que, então, Neymar e tantos outros insistem na encenação?
A resposta está na natureza humana. Ser gente não é fácil. Precisamos equilibrar o desejo de obter vantagens e a necessidade de colaborar com nossos pares, que é o que faz as sociedades funcionarem. Tudo isso preservando a imagem, que queremos manter para nós mesmos, de que somos razoavelmente honestos.
Como mostra Dan Ariely em “A Mais Pura Verdade sobre a Desonestidade”, o cérebro resolve essas contradições de modo infantil: roubamos só um pouquinho. Os experimentos de Ariely sugerem que, na média, as pessoas se sentem confortáveis trapaceando em algo entre 10% e 15%.
Circunstâncias fazem diferença. É mais fácil ser desonesto numa situação que comporte racionalização do que numa que não a admita. Se há uma remota chance de a trapaça soar como justificável, o cérebro se agarra a ela com toda força, e o logro se torna uma segunda natureza.
O lance de Neymar se encaixa nesse modelo. Ele, afinal, foi tocado pelo adversário. Se o marcador tivesse usado mais força, o pênalti seria indiscutível. Nesse contexto, Neymar não inventou nada; ele só foi enfático em sua reação. Como não existe linha inequívoca a separar o “overacting” da simulação, o cérebro adota a interpretação que lhe convém.
Isso tudo ocorre abaixo do radar da consciência, o que significa que jogadores deverão continuar fazendo teatro, mesmo que suas performances como atores não convençam ninguém.
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Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2018/06/neymar-e-a-verdade.shtml